Aprendendo a gostar de ler
Recorrer aos livros não apenas para satisfazer exigências práticas, mas também como fonte de entretenimento e prazer |
Paula Stella e Cristiane F. Tavares
Ensinar o aluno a gostar de ler é uma das principais contribuições que um educador pode dar à sociedade. A Escola da Vila deseja que seus estudantes tenham uma relação de qualidade com a literatura. Desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, as atividades planejadas são voltadas para a formação do leitor como sujeito que recorre à escrita para satisfazer exigências práticas, mas também como fonte de entretenimento e fruição estética. O trabalho baseia-se em atividades que privilegiam a relação qualitativa dos alunos com a literatura: o leitor lê porque tem interesse pelo tema, pelo gênero literário, ou mesmo pelo autor.
O tratamento utilitário, no qual o aluno lê porque o livro traz uma mensagem que o professor quer que ele conheça, está vinculado a uma concepção tradicional do processo de ensino e aprendizagem, que considera o leitor um ser passivo diante de textos com mensagens e significados preestabelecidos.
Exemplos do trabalho que prioriza a qualidade literária e os significados construídos pelos estudantes podem ser encontrados, com freqüência, nas salas de aula da Escola da Vila. Já nas séries iniciais as crianças brincam com as palavras num poema de José Paulo Paes e acompanham, com interesse e curiosidade, a leitura de um livro em capítulos, antecipando os acontecimentos, ansiosas por descobrir o final da história.
A Escola da Vila não propõe os tradicionais exercícios de interpretação de texto, que servem para o professor "controlar" a compreensão do que foi lido, pois valoriza as diferentes interações possíveis entre o leitor e o texto que lê. As conversas, nas quais são feitos comentários semelhantes aos que os leitores mais experientes realizam, informalmente, com seus amigos,quando falam sobre obras lidas, são muito mais estimulantes e esclarecedoras.
Ao optar por uma abordagem estética da linguagem literária, a Escola desvincula-se de concepções preconceituosas e reducionistas presentes em algumas classificações editoriais. Na maioria das vezes, essas publicações destinam ao leitor iniciante apenas as publicações com pouco texto e linguagem simplificada, desconsiderando o fato de que ele pode ouvir uma história lida por um adulto e de que sua capacidade para interagir com os textos está além das caracterizações reducionistas de sua faixa etária. Não há, portanto, um limite de páginas para os livros que são apresentados aos pequenos leitores na Escola da Vila, nem tampouco restrições quanto ao vocabulário que devem ou não devem conter. Há, sim, bom senso, adequação, leitura prévia e cuidadosa realizada pelo professor, a fim de descobrir o valor literário das publicações e planejar a mediação a ser feita.
Não colocar os textos literários a serviço de estudos realizados em outras disciplinas também é uma preocupação constante na Escola da Vila. Cada área possui suas especificidades e ainda que temas relacionados com outras áreas possam estar presentes nos textos literários, não são, em si, objetos de estudo da literatura. É preciso ter claro, quando se opta por uma escolha temática de um livro, em função de algum projeto pertencente a outra área, que os objetivos naquele momento não são literários, uma vez que o estudo não se debruçará sobre a linguagem, o discurso, as palavras. Além disso, as publicações que atendem a esse objetivo costumam apresentar pouco valor literário.
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